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Lobos Solitários - Governo vigia suspeitos

 

Maior parte é estrangeira, mora em área de fronteira e demonstra simpatia por ataques do Estado Islâmico

 

BRASÍLIA - O serviço de inteligência do Brasil está monitorando 24 horas por dia cem pessoas com perfil de “lobo solitário”, com potencial para cometer atos de violência, inclusive terrorismo. É considerado “lobo solitário” aquele que não pertence a uma organização terrorista, como o Estado Islâmico, mas age em favor de uma determinada ideologia.
 
Com a proximidade dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio, essa ameaça é a que mais preocupa os órgãos de inteligência do governo. Segundo uma autoridade federal, a maior parte dos suspeitos é de origem estrangeira e se encontra em estados em área de fronteira, como Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul. Alguns deles entraram no país recentemente, outros já vivem no Brasil há mais tempo.
 
Em comum, eles têm inclinação pelo islamismo e demonstram simpatia por ações terroristas do Estado Islâmico. Alguns têm grande domínio das ferramentas da internet e, de perfil nerd, usam as camadas mais profundas da rede para se comunicar.
 
VIGILÂNCIA É FEITA HÁ UM MÊS 
 
O monitoramento já vem sendo feito há mais de um mês, em parceria com órgãos de inteligência de outros países, e é parte das ações preventivas para os Jogos Olímpicos do Rio.
 
A ideia dos investigadores é mandar, alguns dias antes do início da Olimpíada, sinais diretos para cada integrante desse grupo, a fim de que ele saiba que está sendo monitorado pelo governo. Alguns poderão ser chamados a prestar esclarecimentos; outros talvez recebam a visita de agentes. A orientação do Executivo é agir a qualquer sinal de movimentação em direção ao Rio de Janeiro.

— Se você sabe que o cara quer te (sic) jantar, você o almoça antes — comentou a autoridade do governo, que está envolvida nas ações federais para a Olimpíada do Rio.
 
Pelos dados já levantados pela equipe de segurança brasileira, é possível observar um padrão entre esses suspeitos. Eles sempre têm algum tipo de financiamento — vindo de pessoa física ou de alguma organização. A autoridade mencionou ao GLOBO o potencial devastador de um “lobo solitário” para o evento, citando o enorme fluxo de visitantes nos aeroportos e nas entradas das arenas esportivas, por exemplo.

Um episódio recente envolvendo um “lobo solitário” aconteceu em Orlando, nos Estados Unidos, dia 14 de junho passado. Um homem que se identificava com o Estado Islâmico entrou numa boate gay e assassinou 50 pessoas a tiros. Ele foi morto pela polícia em confronto.
 
ENVIO DE TROPAS ANTECIPADO 
 
Historicamente, o Brasil não é alvo de atentados terroristas, mas a presença no Rio de delegações como as dos Estados Unidos, de Israel, da França e do Iraque justifica o controle. Se, por um lado, é motivo de alívio para os órgãos de inteligência brasileiros o fato de não haver células terroristas em território nacional, por outro, esse mapeamento de uma centena de “lobos solitários” fez acender um botão adicional de alerta no governo. Em meio à violência urbana em que vive o Rio e às obras inacabadas, seria um “desastre internacional” para o país ainda ter de lidar com uma tragédia envolvendo delegações de atletas ou turistas.
 
Há dez dias, o governo Temer decidiu antecipar o envio de tropas do Exército para o Rio, como forma de mostrar uma presença mais ostensiva das forças de segurança e tentar combater a criminalidade crescente às vésperas do evento. A ideia inicial era mandar o efetivo militar somente no fim de julho, a poucos dias do começo dos Jogos. No entanto, optou-se por antecipar a medida e realizar uma ofensiva de comunicação, para difundir imagens de militares do Exército fortemente armados, na tentativa de demonstrar que a tropa está preparada para agir durante a Olimpíada, caso seja necessário.

A estratégia surgiu numa reunião no Palácio do Planalto com vários ministros envolvidos com os Jogos, após um fim de semana repleto de notícias sobre a ação de bandidos na capital fluminense. Além das tropas, o governo montou um gabinete de segurança para monitorar todos os eventos.
 
CUIDADO MAIOR QUE NA COPA 
 
Para a Olimpíada, os órgãos de segurança se mostram mais cautelosos do que na Copa do Mundo de 2014, porque avaliam que a presença desses “lobos solitários” cresceu nos últimos dois anos, com o recrudescimento das ações do Estado Islâmico.

Além disso, os Jogos Olímpicos movimentam um número muito superior de delegações de países do que a Copa, que tem competições espalhadas por vários estados. A concentração de eventos numa só cidade torna, segundo os órgãos de segurança, um atentado mais fácil de ser bem executado, dada a quantidade de potenciais alvos.

 

Fonte: 

CATARINA ALENCASTRO E SIMONE IGLESIAS

 

Matéria Publicada na FSP 09 Julho 2016

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